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Mudanças climáticas radicais estão prestes a ocorrer, sugere estudo |
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A Terra pode experimentar um clima radicalmente diferente no prazo de 34 anos, mudando para sempre a vida como conhecemos, com impacto mais intenso ocorrendo primeiramente na região dos trópicos, alerta um estudo publicado nesta quarta-feira (9) na revista “Nature”.
Com as tendências atuais de emissões de gases de efeito estufa, 2047 será o ano em que o clima na maior parte das regiões do planeta mudará para além dos extremos documentados, destacou o estudo. Este prazo se estenderá a 2069 em um cenário em que as emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis se estabilizarão.
“Os resultados nos chocaram”, afirmou a respeito das descobertas o principal autor do estudo, Camilo Mora, do departamento de geografia da Universidade do Havaí. “Ao longo da minha geração, qualquer clima com o qual estejamos acostumados será coisa do passado”.
A maioria dos estudos climáticos prevê mudanças médias globais a partir de uma data aleatória, como 2100. A nova pesquisa seguiu um curso diferente, ao distinguir diferentes regiões do planeta e tentar identificar o ano em que o clima cruzará o limite dos eventos climáticos extremos.
Entre os efeitos analisados estão a temperatura superficial do ar e mar, padrão de chuva e acidez dos oceanos. “Independentemente do cenário, as mudanças vão acontecer logo”, advertiu Mora, destacando que isto forçará as espécies a se adaptar ou mudar para não morrer.
“O trabalho demonstra que estamos empurrando os ecossistemas do planeta para fora do ambiente em que evoluíram e para dentro de condições totalmente novas que eles podem não conseguir suportar. As extinções são o resultado provável”, comentou Ken Caldeira, do departamento de ecologia global do Instituto Carnegie de Ciência.
Segundo a investigação, os trópicos serão afetados mais rápido e de forma mais intensa. Plantas e animais tropicais não estão habituados a variações no clima e por isso são mais vulneráveis mesmo às menores alterações. “Os trópicos sustentam a maior diversidade do mundo em espécies marinhas e terrestres e experimentarão climas sem precedentes dez anos antes do que qualquer outra (região) da Terra”, destacou um comunicado.
Essas regiões também abrigam a maior parte da população mundial e contribuem significativamente para o abastecimento alimentar global. “Em países predominantemente desenvolvidos, cerca de um bilhão de pessoas em um cenário otimista e cinco bilhões em um cenário ‘business-as-usual’ (que mantém as mesmas condições) vivem em regiões que irão experimentar climas extremos antes de 2050″, disse o co-autor do estudo, Ryan Longman.
“Isso faz aumentar a preocupação com mudanças no abastecimento de água e comida, saúde humana, a disseminação mais extensa de doenças infecciosas, estresse causado pelo calor, conflitos e desafios para as economias’, alertou. “Nossos resultados sugerem que os países que serão impactados primeiro por climas sem precedentes serão aqueles com menos capacidade de responder”, prosseguiu.
Contagem regressiva – Segundo um cenário de emissões onde não foram tomadas a providências para reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera, os cientistas previram que as datas da “partida climática” seriam por volta de 2020 em Manokwari (Indonésia), 2029 em Lagos (Nigéria), 2031 na Cidade do México, 2066 em Reykjavik (Islândia) e 2071 em Anchorage (Alasca).
Os estudiosos denominaram de “partida climática” o ponto em que eventos extremos mensurados durante os últimos 150 anos – período durante o qual dados climáticos são considerados confiáveis – se tornam a norma.
“Se a avaliação estiver correta, atenção conservacionistas: a corrida das mudanças climáticas não só começou, mas está definida, com a linha de chegada da extinção se aproximando mais dos trópicos”, escreveu Eric Post, do departamento de biologia da Universidade do Estado da Pensilvânia, em um comentário sobre as descobertas.
O ano 2047 foi estabelecido em um cenário “business-as-usual”, segundo o qual os níveis de dióxido de carbono (CO2) atmosférico continuarão constantes. Atualmente, estes níveis estão abaixo das 400 partes por milhão (ppm), mas podem alcançar 936 ppm em 2100, o que significaria uma elevação média na temperatura ao longo deste século de 3,7 graus Celsius.
O ano 2067 se baseia em um cenário de redução de emissões, que alcançaria as 538 ppm em 2100, provocando um aquecimento neste século de cerca de 1,8º C. Mais 0,7º C precisa ser adicionado às temperaturas para incluir um aquecimento que aconteceu do início da Revolução Industrial até o ano 2000.
Relatório do IPCC – As Nações Unidas estabeleceram como meta limitar o aquecimento global a 2º C em comparação com níveis pré-industriais para evitar efeitos catastróficos decorrentes das mudanças climáticas.
No mês passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC na sigla em inglês, divulgou o quinto relatório que aumentou o grau de certeza dos cientistas em relação à responsabilidade do homem no aquecimento global.
Chamado de “Sumário para os Formuladores de Políticas”, o texto afirma que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau – a edição anterior falava em mais de 90%.
O documento mostrou também que o nível dos oceanos aumentou 19 centímetros entre 1901 e 2010, e que as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram para “níveis sem precedentes em pelo menos nos últimos 800 mil anos”.
O novo relatório diz ainda que há ao menos 66% de chance de a temperatura global aumentar pelo menos 2 ºC até 2100 em comparação aos níveis pré-industriais (1850 a 1900), caso a queima de combustíveis fósseis continue no ritmo atual e não sejam aplicadas quaisquer políticas climáticas já existentes.
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Data: 10/10/2013 |
Fonte: G1 |
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