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Painel da ONU prevê maior impacto do aquecimento, com mais incerteza |
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O novo relatório do IPCC (painel do clima da ONU) sobre impactos do aquecimento global traz um mapa muito mais amplo das possíveis consequências do fenômeno, mas menos certezas sobre o que efetivamente ocorrerá.
O documento, divulgado no domingo (30) após um encontro em Yokohama, no Japão, trata de muito mais assuntos do que seu predecessor, de 2007, e avalia melhor alguns temas, como o efeito do clima na saúde humana e em conflitos violentos.
Projeções que tinham recebido grande destaque antes, porém -como o risco de as secas afetarem 1 bilhão de pessoas na África e 250 milhões na Ásia-, saíram do sumário para formuladores de políticas. Esse resumo não técnico do relatório tem seu texto definido por um grupo de cientistas e representantes de governos, e é o que de fato se definiu no Japão. Expressões categóricas no documento deram lugar a uma descrição que inclui uma gama maior de probabilidades.
“No AR4 [o relatório de 2007] algumas das afirmações sobre impactos biológicos às quais se atribuía maior certeza foram baseadas em um único estudo”, disse à Folha, Chris Field, coordenador do sumário para formuladores de políticas, o resumo não técnico do relatório do grupo 2 do IPCC, que trata de impactos e de adaptações necessárias. “É claro que aquele era um bom estudo, mas no AR5 [o novo documento] nós tentamos não basear nenhuma conclusão muito importante em um único estudo.”
Uma das afirmações para as quais o IPCC baixou o tom é a do risco de a Amazônia tornar-se uma savana sob influência da mudança climática. Esse possível impacto é listado no novo documento, mas agora aparece com rubrica de “baixa confiabilidade”.
Isso não é necessariamente uma boa notícia para a floresta, diz José Marengo, climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele é o único autor representando o Brasil no sumário não técnico do IPCC no grupo de trabalho 2, que trata de impactos da mudança climática e adaptações.
“Isso quer dizer apenas que existe um número menor de artigos científicos indicando esse fenômeno”, diz o cientista. “São bons artigos, de pesquisadores brasileiros e britânicos, mas o nível de confiança acabou sendo descrito como um pouco menor.”
Segundo Chris Field, o sumário não sofreu grandes alterações a pedido de governos, pois tem de ser consistente com o relatório geral, na qual só os cientistas do IPCC podem opinar.
Uma das alterações no texto, porém, foi justamente uma demanda do governo brasileiro. O país reclamou de uma crítica que o relatório fazia sobre o risco de plantações para biocombustíveis afetarem a ecossistemas por meio do desmatamento. A frase sumiu do sumário.
Outra mudança no relatório foi o uso mais restrito de dados sem revisão científica formal. Em 2007, o IPCC usou uma previsão errada para o derretimento de geleiras do Himalaia, citada de uma publicação da ONG ambientalista WWF. Desta vez, textos de ONGs foram barrados.
“É uma coisa boa que tudo o que eles citem seja tão robusto quanto possível”, diz Kaisa Kosonen, observadora do Greenpeace na reunião IPCC. “O que pode ser perdido, porém, são informação de comunidades locais, populações indígenas e outros grupos que não contam com artigos científicos revisados para relatar seus problemas.”
Field reconhece que há escassez de dados sobre regiões pobres do planeta, mas diz que o IPCC não usará mais “ciência de baixo padrão”.
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Data: 01/04/2014 |
Fonte: Folha.com |
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