Consumidores se alimentam mais e melhor
Os consumidores ampliaram as compras de alimentos e passaram a priorizar produtos considerados mais saudáveis, mostra uma pesquisa mundial realizada pela consultoria ACNielsen.

A venda de alimentos e bebidas no mundo teve aumento de 4% no período de doze meses encerrado em julho de 2004 em relação ao anterior. A análise engloba 59 países, responsáveis por 93% do PIB do globo e onde estão 77% da população. Foi considerada a expansão em receita com vendas.

Na América Latina -em especial no México e no Brasil- e nos mercados emergentes, como Rússia e Polônia, a alta nas vendas no período foi ainda maior: de 7% e 10%, respectivamente.

Boa parte desse aumento é resultado da maior demanda por itens classificados como saudáveis pelo relatório. A pesquisa mundial informa ainda que o cardápio de duas famosas dietas, a Atkins e a South Beach, rica em proteínas e com poucos carboidratos, ajudaram a "turbinar" a demanda e o desempenho de vendas de certas categorias de produto no mundo nos últimos meses.

As mercadorias que apresentam as maiores taxas de expansão em vendas, em euros, segundo o levantamento, foram as bebidas à base de soja (sucos, leites) e os iogurtes líquidos, seguidos, em terceiro e quarto lugares, pelos ovos e cereais, nessa ordem.

No caso das bebidas fabricadas com soja, a alta mundial atingiu 31% no período entre agosto de 2003 e julho de 2004 em comparação com os 12 meses anteriores. As vendas acumuladas foram de 244 milhões (R$ 873 milhões). No Brasil, a Nielsen informou à Folha que a expansão registrada nesse segmento foi de 19%.

Essa taxa supera a verificada para o período nos Estados Unidos (17%), uma das maiores praças consumidoras do produto. No entanto, como o mercado norte-americano acumula expansões elevadas há alguns anos -ao contrário do Brasil, que registra um aumento recente-, a elevação das vendas acontece em cima de taxas já consideradas altas.

Em relação à receita com vendas de iogurtes líquidos, no Brasil foi constatada alta de 7% de agosto de 2003 a julho de 2004 sobre o período anterior. No mundo, a elevação foi bem maior, 19%.

Por ainda serem produtos de consumo restrito a classes de maior poder aquisitivo no Brasil, é natural que o resultado de venda no país -mesmo positivo- seja menor do que a média mundial.

"Os lácteos em geral tiveram alta de 6,1% em volume vendido no país em todo o ano de 2004 sobre 2003. Ao analisar só iogurtes líquidos, a expansão foi de 12% em volume", afirma Alberto Bendicho, gerente de comunicação da Danone.

Produtos à base de soja, por exemplo, têm uma das mais baixas taxas de penetração nos domicílios brasileiros de classe média -inferior a 5% -, de acordo com dados de 2002 da LatinPanel, empresa do grupo Ibope.

Outro produto com boas vendas, tanto aqui quanto lá fora, no período analisado, foi a água mineral. Teve o quarto melhor desempenho mundial em termos de receita gerada. Foram 920 milhões (R$ 3,2 bilhões) no intervalo pesquisado pelo relatório -alta de 6% sobre o período anterior.

Crise e consumo
Ao focar a análise do relatório nos dados gerais -são 89 itens estudados-, as taxas de crescimento nas vendas são maiores nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.

Entre os 89 produtos analisados, 25 registraram, na América Latina, alta de dois dígitos nas vendas. Aí estão incluídos desde itens tidos como supérfluos, como laticínios, doces e biscoitos, como os que são considerados indispensáveis para a alimentação, como carnes e peixes.

Já na América do Norte foram 12 categorias com expansão de dois dígitos nas vendas. Na região classificada pelo estudo como Ásia-Pacífico, foram 11 produtos. A Europa registrou o pior desempenho: só sete mercadorias alcançaram esse patamar. O recorde foi atingido nos chamados mercados emergentes. Neles, 34 categorias tiveram aumento nas vendas igual ou superior a 10%.

"Sem dúvida, as instabilidades econômicas em determinados países inviabilizam os investimentos, travam ganhos de renda e o aumento no consumo. Porém, independentemente desse cenário, em termos de potencial de consumo, são países como Brasil e México que estão mais à linha de frente, com mais espaço para crescer", afirma Fatima Merlin, gerente de atendimento da LatinPanel.

Segundo Merlin, uma pesquisa em mais de 6 milhões de domicílios, feita pela empresa em 2004 e publicada em setembro, mostra que 30% das pessoas já compram itens diet e light no país. Mais de 50% consomem frutas, legumes e verduras todos os dias.

"Mesmo com as crises de 2001, 2002 e 2003, a América Latina segue as tendências de consumo mundiais voltadas para itens saudáveis", completa Tereza Araújo, gerente de serviços ao cliente da ACNielsen.

Ditadura do prazer
Na avaliação de Araújo, é possível verificar, pela análise das categorias com crescimento mais rápido em 2004, que há tanto itens voltados para a saúde como outros que podem ser entendidos como menos saudáveis, diz, destinados ao "prazer de consumir".

Para ela, "os consumidores, e isso inclui o brasileiro, já têm no seu imaginário a questão do "comprar o que é benéfico ao corpo", mas, ao mesmo tempo, querem adquirir também o que lhes dá prazer", afirma. Nesse caso, entram os chocolates e bolos e os doces. As duas categorias tiveram taxa de expansão de vendas de 8% e 7%, respectivamente, no mundo no período analisado pela pesquisa.

Nas contas feitas pela ACNielsen é preciso levar em conta que há a pressão dos preços na alta das vendas em valor (moeda). Portanto, a inflação dos produtos ajuda a puxar o resultado para cima.
Data: 07/12/2005
Fonte: Folha OnLine



 
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