Aquecimento: carvão limpo pode gerar mais poluição
O carvão limpo, uma tecnologia que indústrias e governos apresentam como um avanço na luta contra a mudança climática, pode se transformar no próximo campo de batalha para os ecologistas.
Ainda é cedo, já que as tecnologias para obtê-lo estão em fase experimental, mas tudo indica que isso ocorrerá. Os ecologistas afirmam que o carvão limpo gera mais CO2, um armazenamento inseguro e a redução de investimentos em energias responsáveis.

O carvão limpo tem como missão capturar o dióxido de carbono (CO2), o principal gás causador do efeito estufa, para evitar seu retorno à atmosfera e não contribuir para a mudança climática.

Os especialistas afirmam que esta luta, que será internacional, não ocorrerá da mesma forma em todas as partes do mundo. Para eles, por exemplo, é preferível que os países latino-americanos se concentrem em desenvolver energias renováveis, pois têm mais chances de aproveitar uma energia barata e natural que a Europa.

O vice-diretor-geral de Engenharia e de Pesquisa e Desenvolvimento da multinacional elétrica Endesa, Santiago Sabugal, afirma que, caso aumente a concentração de CO2 na atmosfera, ocorrerão mudanças climáticas com efeitos que durarão dezenas de milhares de anos.

"O desafio é tão grande que é preciso utilizar todos os recursos", diz. Capturar o CO2 "não é a salvação, mas um meio a mais, que aproveita um recurso abundante, bem distribuído e relativamente barato, como o carvão, sem prejudicar a atmosfera".

No entanto, ele afirma que a prioridade é gerar energias renováveis, principalmente na América Latina. Segundo Sabugal, a região tem que aproveitar os recursos naturais, abundantes e baratos, antes de utilizar o carvão limpo e a captura de CO2.

Mas nem todos os especialistas consideram o "carvão limpo" uma alternativa viável, como Joaquín Nieto, das Comisiones Obreras espanhola. Ele afirma que transformar o "carvão limpo" em um produto rentável é "apenas uma ilusão". Segundo Nieto, os governos são muito imprudentes por apoiar estas opções. "Talvez, com isso, retirem fundos que poderiam ter um destino melhor".

"A captura de CO2 não é uma alternativa porque a tecnologia demorará para ficar disponível e as soluções para a mudança climática não podem esperar. Além disso, diminui os recursos para a pesquisa de renováveis", afirma Raquel Montón, do Greenpeace.

Segundo ela, a captura de CO2 queima mais carvão para obter a mesma energia. "Com o tempo, queimaríamos mais combustíveis fósseis", explica. O armazenamento é outro ponto que chama atenção na polêmica. Uma vez capturado, o CO2 precisa ser transportado e guardado num local seguro, sem risco de uma fuga que o leve para a atmosfera.

Sabugal disse que o CO2 não é um "resíduo" antieconômico e o considera uma matéria-prima valiosa para um futuro ainda indeterminado. "Como o carvão foi a base industrial no século XIX, o carbono será no XXI. O CO2 que confinamos hoje pode ter mais valor. Quando soubermos partir essa molécula, teremos um material muito valioso: carbono e oxigênio", afirmou.

A partir da molécula é feita a fibra de carbono, utilizada na aeronáutica, na indústria aeroespacial e para fabricar material esportivo. Em um futuro próximo poderão ser feitos móveis com este elemento, e, assim, as árvores permanecerão mais tempo absorvendo as emissões de CO2.
Data: 23/10/2007
Fonte: EFE



 
Usuário:
Senha:
Esqueceu a senha? Não tem problema
Clique aqui e recupere sua senha