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Aquecimento global altera ritmo de caçadas nos EUA |
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Depois de 32 anos caçando patos nas terras alagadas do Missouri, Chuck Geier sabe quando a temperatura vai cair e a água vai congelar. Isso significa que ele sabe quando as aves estarão voando, e qual será o período mais favorável à caça. Excetuado o fato de que muito do que ele sabe agora está em questão.
"Este lugar costumava estar congelado em 6 de dezembro", disse Geier, 51 anos, gerente nacional de vendas de uma empresa de telecomunicações. "Mas isso já não é verdade". Dos locais de caça nas pradarias do Canadá e da região centro-oeste dos Estados Unidos aos Estados do Arkansas e Lousiana, para onde as árvores migram no inverno, os ritmos da rota de migração das aves pelo continente, conhecida como "Mississipi Flyway", estão mudando.
No Missouri, onde a temperatura média de inverno vem subindo de maneira notável, os caçadores dizem que as aves estão chegando mais tarde e permanecendo por mais tempo antes de sair em busca de refúgios mais quentes. Em outras áreas, as terras alagadas não estão mais congelando como no passado. Enquanto os caçadores apontam suas armas para o céu e disparam, uma pergunta ecoa junto com o ruído do tiro: o que diabos está acontecendo com os patos?
"As pessoas dizem que essas coisas acontecem em ciclos , de cinco a sete anos, mas faz tempo demais", disse Geier sobre a tendência de aquecimento , que segundo ele remonta ao final dos anos 90. "É um alerta", afirma.
As médias qüinqüenais de "uso de patos" em certas áreas de preservação no Missouri demonstram que os picos estão surgindo em média uma semana mais tarde do que a média dos últimos 30 anos. Os caçadores declaram em pesquisas realizadas nos locais de caçada que desejam que as temporadas de caça comecem mais tarde, para refletir a chegada tardia dos grandes sistemas climáticos que motivam o movimento das aves para o Estado.
O Mississipi Flyway é um dos cinco grandes corredores de vôo das aves migratórias que cruzam o país. Os caçadores de outras áreas dos Estados Unidos também reportaram mudanças nos padrões de comportamento dos patos . "Estamos vivendo outonos mais amenos, invernos que começam mais tarde", diz Dave Erickson, diretor da divisão de fauna do Departamento de Conservação do Missouri. "O que não sabemos é se a tendência que afeta a migração e o desejo dos caçadores por uma temporada de caça mais longa é um fenômeno temporário ou permanente".
A ciência decerto não é clara quanto a isso. Cientistas e funcionários estaduais do setor de conservação de fauna dizem que não existem dados claros que sustentem as alegações de mudanças no comportamento dos patos, mas os padrões são conhecidos. Eles apontam que diversas outras espécies animais, entre as quais pássaros, rãs e raposas, estão desenvolvendo padrões diferenciados de acasalamento e migração.
"Nós estamos vendo mudanças nos padrões de vida dos pássaros e borboletas na região norte", disse Camille Parmesan, professora de biologia da conservação na Universidade do Texas e membro do painel da ONU que recentemente recebeu um prêmio Nobel da paz por seu trabalho documentando as alterações climáticas.
Muitos caçadores, profissionais da conservação ecológica e cientistas dizem que as mudanças criaram novos mistérios quanto às migrações das aves aquáticas e a melhor maneira de administrá-las. Diante de um futuro incerto, as agências estaduais de conservação e os grupos ecológicos que promovem a preservação das populações de aves aquáticas estão reexaminando algumas abordagens tradicionais de conservação e questionando se elas precisam ser reformuladas.
Alguns especialistas questionam por que continuar investindo na preservação de locais tradicionais de procriação de aves, na região mais setentrional do centro-oeste, se as previsões climáticas se comprovarem e essas áreas se tornarem secas demais para os patos. "As aves não irão para lá se não houver o mesmo padrão de umidade e de gramíneas nas quais fazem seus ninhos", disse Alan Wentz, diretor de programas de conservação da Duck Unlimited, grupo que trabalha para preservar e restaurar as terras alagadas.
Questões semelhantes estão desviando verbas de conservação antes destinadas a áreas nas quais a temperatura da água deve ficar quente demais para permitir que as aves sobrevivam. Alguns especialistas em caça dizem que os cervos e alces de muitos Estados do oeste talvez não deixem as altitudes mais elevadas, se dirigindo a áreas tradicionais de caça, porque o clima será mais ameno. Indícios sugerem que isso já está acontecendo. Outros animais, como os alces de Minnesota, já não vivem tão ao sul quanto era o caso tradicionalmente.
Alguns caçadores culpam as práticas empresariais de algumas grandes empresas de agricultura ou as verbas governamentais de alimentação pelas mudanças no comportamento dos patos. Em muitas áreas, a fauna mudou de comportamento quando seu habitat foi prejudicado pelo desenvolvimento ou alterado pelos esforços de conservação, que incluem a transformação de terras agrícolas em florestas.
"Nós já éramos conservacionistas antes que a palavra 'ecológico' existisse", diz Allen Morris, caçador que vive em Jackson, Missouri. "Nós nos sacrificamos e usamos dinheiro para comprar licenças de caça, de maneira a preservar terras para a fauna , mas ninguém fala disso na mídia."
Morris diz que "o chamado aquecimento global" não afeta a caça. Alguns biólogos se sentem igualmente divididos. Mas os grandes grupos de conservação, de alcance nacional, afirmam que as alterações climáticas já estão mudando a caça e a vida da fauna. "Isso está realmente acontecendo?, disse Douglas Inkley, cientista sênior da Federação Nacional da Fauna e Flora. "As provas são claras".
Inkley aponta para mudanças na migração de aves, no comportamento de anfíbios e até nos padrões de vida das lagostas nas águas do Atlântico, que estão cada vez mais quentes. "Temos indícios científicos e temos indícios baseados em observação direta, ainda que não científica. Além disso, temos um modelo teórico quanto ao que vem acontecendo, baseado nos modelos científicos sobre as alterações climáticas."
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Data: 12/12/2007 |
Fonte: Redação Terra |
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