Ilhas da Papua Nova Guiné correm risco de afundar
Os moradores do atol de Carteret, no sul do Oceano Pacífico, não têm muito tempo. Em 2015, as ilhas pertencentes a Papua Nova Guiné já poderão estar inabitáveis. A causa é o aquecimento global e o consequente aumento do nível do mar.

Desde 1993, o avanço foi de 40 centímetros na região das Ilhas Carteret, cuja altitude mal chega a um metro. Estudos do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos, de Leipzig, na Alemanha, preveem um aumento do nível do mar, em termos globais, de um a dois metros até o fim deste século.

Moradores de regiões costeiras estão ameaçados em todo o planeta – seja em Nova Orleans (EUA), em Roterdã (Holanda) ou em Daca, a capital de Blangadesh, onde a cada ano as águas obrigam 100 mil pessoas a se mudarem. Mas as ilhas estão submetidas a um tipo de perigo bastante particular: o de desaparecer completamente. A cada prognóstico climático, aparecem novas ameaças.

Estudos mostram, entretanto, que as ilhas de dois mares estão especialmente em perigo: as do Oceano Índico – onde as Maldivas e o Timor Leste correm o risco de afundar – e as do Pacífico Sul – em que as águas poderiam encobrir uma dezena de países até o fim deste século.

Ali, oito milhões de pessoas perderiam seus lares por causa das alterações climáticas, estima a alemã Sociedade de Povos Ameaçados. Paradoxalmente, as 22 ilhas do Pacífico são responsáveis por apenas 0,06 % das emissões de gases-estufa.

Cada vez mais pessoas querem deixar ilhas – “Para os moradores do Pacífico, as mudanças climáticas são percebidas dia a dia”, afirma Ulrich Delius, especialista em Ásia da Sociedade de Povos Ameaçados. “O medo é grande, principalmente em atóis cuja altitude não passa dos três metros acima do nível do mar.” O governo de Papua Nova Guiné vem tentando transferir os 3.200 habitantes das Ilhas Carteret para outros territórios.

Em Vanuatu, Tuvalu e Kiribati, as pessoas já estão se mudando para regiões mais altas. Cada vez mais ilhéus tentam emigrar em direção, por exemplo, à Austrália e à Nova Zelândia. Entretanto, eles não fogem simplesmente porque suas ilhas em breve serão inundadas. “Não é mais possível viver ali porque o mar está atacando as reservas de água doce”, explica Delius.

A água salgada invade os sistemas de canalização e atinge a água potável. Também o solo fica improdutivo, as plantas não vingam e as palmeiras morrem. Além disso, as mudanças climáticas tornaram os furacões mais frequentes e estes já devastaram algumas ilhas.

Outro problema é a migração do atum. Com o aumento da temperatura das águas, o atum mudou sua rota, para longe de ilhas onde sua pesca representa uma importante fonte de renda. A consequência é que os pescadores passaram a concentrar suas atividades nos bancos de corais, cujas espécies já estão ameaçadas.

Reunião de gabinete submarina – As Maldivas sofrem do mesmo problema, disse o presidente Mohamed Nasheed em entrevista à Deutsche Welle. E o tempo urge. “Não podemos barganhar com a natureza”, alerta Nasheed – que se converteu em porta-voz das ilhas ameaçadas. Com a receita gerada pelo turismo, Nasheed pretende comprar terras para os cidadãos – na Índia, Sri Lanka ou Austrália.

Em outubro de 2009, portanto antes da Conferência do Clima de Copenhague, o presidente realizou uma reunião de gabinete embaixo d’água com o objetivo de chamar a atenção para a situação dos Estados ilhéus.

O tempo é curto para as ilhas, por isso elas exigiram em Copenhague medidas rigorosas para controlar o aquecimento global, ou seja, um aumento de temperatura de no máximo 1,5ºC até 2050, em comparação a 1850. A meta de 2ºC estabelecida por muitos países é muito pouco para estes territórios. “A urgência é maior nas ilhas”, afirma Jakob Graichen, do Öko Institut, instituto de ecologia aplicada.

Em Copenhague, 42 estados foram representados pela Aliança dos Pequenos Estados Ilhéus (Aosis, do inglês). Em plenário, Tuvalu criticou a declaração final dos governantes e chefes de Estado.

Entretanto, os membros da Aliança divergem sobre alguns pontos: países com grandes frotas de navios e uma forte indústria do turismo não querem impor a redução do tráfego de aviões e navios para reduzir suas emissões. Graichen acredita, no entanto, que um acordo entre os Estados ilhéus seria possível. “As propostas são muitas.”

Ilhas: nova vanguarda da política energética? – No debate climático, as atenções se voltam especialmente às ilhas, que reivindicam o papel de liderança na política energética. A menor das Canárias espanholas – El Hierro –, por exemplo, quer livrar-se completamente dos combustíveis fósseis. Algumas ilhotas já arriscaram dar este passo – como Pellworm, na Alemanha; Utsira, na Noruega; e Samsö, na Dinamarca.

Também o presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, aposta em energias renováveis: três projetos de energia eólica e um de energia solar estão em planejamento, diz ele. As Maldivas colocaram em destaque outro tema: elas pressionaram a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU a posicionar-se sobre a relação entre as mudanças climáticas e o acordo internacional de direitos humanos.

Este problema pouco considerado vem à tona com o aumento do número de refugiados climáticos, estimado em 25 milhões de pessoas. Até agora, eles não são enquadrados na Convenção de Genebra, porque devido ao orçamento apertado da ONU seu abastecimento não pode ser garantido.

As alterações climáticas levantam questões jurídicas às quais ninguém é capaz de responder. E justamente o destino dos ilhéus das ilhas do Hemisfério Sul exige respostas. Todos os Estados deveriam reconhecer as consequências das mudanças climáticas, ressalta Nasheed. “É a questão deste século. Nossa sobrevivência depende disso.”
Data: 28/01/2011
Fonte: ambientebrasil



 
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