Apesar de ‘buraco’ no Ártico, camada de ozônio está sob controle
A recente notícia de que a camada de ozônio na região do Ártico chegou a seu nível histórico mais baixo deixou cientistas surpresos, já que normalmente é a Antártida que sofre mais com o chamado “buraco” da ozonosfera. Apesar do alerta mundial com a notícia, o diretor associado do Centro de Pesquisas Meteorológicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Hilton Silveira Pinto, afirma que a variabilidade da camada de ozônio é muito baixa no seu total e, por estar presente no mundo inteiro, não há motivo para alarde.

“O medo do povo é que esse buraco vá abrindo cada vez mais, porque a camada de ozônio estaria sendo destruída, o que não é verdade. E não é porque o buraco é maior ou menor em uma região que isso vai interferir na incidência de radiação em outras partes”, explica Pinto.

Um estudo lançado no início deste mês pelo Centro Nacional de Pesquisas Científicas francês (CNRS) mostrou que, no final de março, a redução da camada que protege a Terra dos raios ultravioleta foi de 40% no Polo Norte. O motivo desta degradação seria “um inverno estratosférico muito frio e persistente”, que conduziu a uma grande e prolongada destruição de ozônio até a primavera do hemisfério norte.

“A camada de ozônio não é estável. Ela é instável, ou seja, quando aparece o sol, que tem radiação ultravioleta, ela se forma para barrar isso. Então, à noite, o ozônio praticamente inexiste, porque não há sol”, explica Pinto. “Normalmente, no Polo Sul, na Antártida, é que você vê a formação do que as pessoas chamam de ‘buraco’. Mas isso sempre existiu e sempre vai existir. E também o tamanho da superfície total desse ‘buraco’ varia de acordo com o tempo, quando você tem mais ou menos sol”, diz o especialista.

“O interessante é que, como a Terra gira, ela forma um vórtex. Quando a gente abre um ralo de pia, a gente vê a água girando. Imagine isso na atmosfera, só que em escala muito maior. Esse tipo de vórtex que ela faz também contribui com o buraco de ozônio”, afirma o professor da Unicamp.

Silveira Pinto explica que, na década de 1980, a presença de clorofluorcarbonos (CFC) em sprays e refrigeradores foi apontada como uma das grandes causadoras do “buraco” na camada de ozônio. Conforme ele, o CFC substituía um átomo de carbono na atmosfera. “Desta forma, ele fazia com que o oxigênio se transformasse não mais em ozônio, mas num composto com cloro. E supostamente isso iria consumir o ozônio, haveria uma diminuição pela formação de um derivado. Mas isso foi suspenso e CFCs não são mais fabricados, de forma que não existe esse perigo de diminuição da camada de ozônio. Hoje em dia ela é considerada totalmente estável”, afirma o especialista.

A assinatura do Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1989, firmou o compromisso de diversos países na substituição das substâncias que estariam reagindo com o ozônio na parte superior da estratosfera. Devido à grande adesão mundial, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, chegou a comentar que o termo seria possivelmente o mais bem sucedido acordo internacional de todos os tempos.

“Por todas estas razões, não existe, comprovadamente, perigo de que um ‘buraco’ na camada de ozônio venha a causar problemas sérios, pelo menos nos próximos anos”, completou o professor da Unicamp.

Importância da camada de ozônio – A ozonosfera é uma camada de gases atmosféricos que fica concentrada entre 16 e 30 km de altitude, formada principalmente por ozônio e que possui 20 km de espessura. Conforme explicação do professor, as moléculas ozônio se formam quando três átomos de oxigênio se agrupam, formando uma camada fundamental para a vida na Terra, à medida que controla a incidência de radiação ultravioleta na superfície do planeta.

“Basicamente, na atmosfera, ela é o filtro que deixa passar um certo tipo de ultravioleta. Temos 3 tipos: A, B e C. E ela permite a entrada daqueles que não são prejudiciais. O ultravioleta A, por exemplo, é importante para o ser vivo. Já o C, ela bloqueia totalmente. O tipo B é bloqueado parcialmente pela camada de ozônio, e é ele que causa câncer de pele e problemas nas vistas das pessoas. Por isso, é fundamental que o ultravioleta B seja bloqueado”, diz o professor.

Ele lembra, no entanto, que enquanto alguns locais têm pouco ozônio, outros tem quantidades em excesso. Em 12 de abril, o Departamento de Monitoramento de Qualidade Ambiental de Tulsa, nos Estados Unidos, lançou um alerta avisando que os níveis de concentração de ozônio na região poderiam ser prejudiciais a grupos sensíveis, como idosos, bebês e pessoas que sofrem de asma.

“O ozônio pode ser benéfico, e inclusive é utilizado naqueles filtros para purificar água. Até certo nível, ele é anti-bactericida. Mas passou de um certo nível, ele passa a ser danoso. No entanto, isso é circunstancial e temporário. Na superfície da Terra, o ozônio é formado e destruído em sequência. Por exemplo, se você tiver uma tempestade, cada raio que cai forma ozônio, então isso aumenta os níveis. Veículos andando em locais urbanos também fazem aumentar o teor de ozônio. Mas como ele é instável, ele se transforma em oxigênio logo em seguida”, diz o professor da Unicamp.
Data: 18/04/2011
Fonte: AmbienteBrasil



 
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