Desmatamento cai no Brasil, mas sobe em países vizinhos, diz Imazon
Os países da América Latina devem ter cada vez mais ações de cooperação no combate aos crimes ambientais, avalia o cofundador e um dos principais pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Beto Veríssimo. Ele participou do 6º Encontro do Fórum Amazônia Sustentável, realizado em Belém, nesta quarta-feira (5), e avaliou questões sobre desmatamento na região da Pan-Amazônia, que inclui nove países, entre eles Bolívia, Venezuela, Equador e Colômbia, além do Brasil.

O pesquisador apontou que o desmatamento na Amazônia brasileira está em tendência de queda, enquanto em países vizinhos – em especial Bolívia, Equador e Peru – o número aumentou. “Muita gente acha que a Amazônia é apenas o Brasil. Mas o Brasil tem cerca de 65% da floresta, e outros 35% estão em outras nações”, ressaltou Veríssimo.

O cofundador do Imazon citou o atlas “Amazônia sob Pressão”, divulgado nesta semana por ONGs. Pelo documento, a Amazônia, espalhada por nove países da América do Sul, perdeu 240 mil km² devido ao desmatamento, no total, entre 2000 e 2010.

Ultimamente, a degradação vem ocorrendo de forma mais acentuada nos países vizinhos, e a falta de leis fortes e a discrepância entre as normas são fatores que levam a isto, avalia Veríssimo. “O desmatamento não é um problema só do Brasil, é também do Equador, do Peru. Embora existam diferenças políticas, em termos de bioma [a Amazônia] é uma coisa só”, pondera.

“O ideal é que os países tivessem uma política ambiental que respeitasse cada realidade, porém com características mais similares”, afirma o pesquisador. “Não adianta o Brasil ter um código de proteção avançado e a Bolívia não ter nenhum.”

A degradação ambiental nos países vizinhos afeta o Brasil, diz Veríssimo. Ele cita as nascentes dos rios da Amazônia – quase todos surgem em outros países, como o Rio Negro, que é formado de águas vindas da Colômbia e Venezuela.

“A destruição de florestas na Bolívia afeta o suprimento de águas do Rio Madeira, onde estamos instalando duas hidrelétricas caríssimas. É de nosso interesse acompanhar o que está ocorrendo em outros países”, ressalta o pesquisador. Em território boliviano, diz ele, tem havido expansão da soja e da exploração de madeira.

Pressões – De acordo com o atlas, todas as sub-bacias amazônicas foram afetadas por algum tipo de ameaça ou pressão – construção de estradas, exploração de petróleo e gás, construção de hidrelétricas, implantação de garimpos para mineração, desmatamento e queimadas.

Sobre a construção de estradas, o documento afirma que planos para conectar os oceanos Atlântico ao Pacífico aceleram a pressão sobre a Amazônia, e que o Peru e a Bolívia são os países que detêm o maior número de rodovias construídas no meio da floresta.

O relatório aponta também que em toda a Amazônia existem 171 hidrelétricas em operação ou em desenvolvimento, além de 246 projetos em estudo. No caso da mineração, as zonas de interesse somam 1,6 milhão de km² (21% da área total do bioma), em especial na Guiana. Sobre a exploração de petróleo e gás, atualmente existem 81 lotes sendo explorados, mas há outros 246 que despertam interesse da indústria petrolífera.

Referente às queimadas, o relatório das ONGs diz que o sudeste da Amazônia, entre o Brasil e a Bolívia, concentra a maior quantidade de focos de calor – a região recebe o nome de “arco do desmatamento”. Esta faixa territorial vai de Rondônia, passando por Mato Grosso, até o Pará.

Brasil é líder na degradação – O relatório computou dados da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Entre 2000 e 2010, o Brasil foi o principal responsável pela degradação da floresta (80,4%), seguido do Peru (6,2%) e Colômbia (5%). A quantidade é proporcional à área de floresta englobada pelo país (uma participação de 64,3% no território amazônico).

Na última semana, o Ministério de Meio Ambiente divulgou que o desmatamento da Amazônia brasileira registrou o menor índice desde que foram iniciadas as medições, em 1988.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2011 e julho de 2012 houve a perda de 4.656 km² de floresta, área equivalente a mais de três vezes o tamanho da cidade São Paulo. O índice é 27% menor que o total registrado no período entre agosto de 2010 e julho de 2011 (6.418 km²).
Data: 07/12/2012
Fonte: G1



 
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